O que nos dizem as pesquisas mais recentes sobre o aspartame?
O aspartame é um adoçante artificial descoberto em 1965 e amplamente utilizado em alimentos e bebidas1, mas recentemente tanto a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), da Organização Mundial da Saúde (OMS), quanto o Comitê Conjunto FAO/OMS de Especialistas em Aditivos Alimentares (JECFA) conduziram revisões sobre o risco potencial de ele causar câncer e outros problemas à saúde.
Ambas as avaliações encontraram limitações nas evidências disponíveis em relação ao câncer e a outros efeitos adversos. A IARC, em particular, classificou o aspartame como possivelmente cancerígeno para humanos (Grupo 2B), com base em evidências limitadas de câncer em humanos — especificamente, um denominado carcinoma hepatocelular, que atinge o fígado — e em estudos com animais.2, 3
Já o JECFA reafirmou que o aspartame é seguro para o consumo da ingestão diária aceitável (IDA) anteriormente exigida, que é de zero a 40 mg/kg de peso corporal. Um adulto com 70 kg de peso corporal, por exemplo, precisaria consumir de nove a 14 latas de refrigerante dietético por dia para exceder a IDA, supondo que não haja ingestão adicional de aspartame de outras fontes.3
Embora haja debates contínuos sobre a segurança do aspartame, essas revisões independentes destacam a necessidade de continuar a pesquisa e a monitoria dos efeitos dessa substância na saúde, especialmente pelo fato de que o aspartame é amplamente utilizado em uma variedade de produtos nutritivos de baixas calorias, além de alimentos para controle de peso.1
Além disso, é importante lembrar que os estudos científicos atuais avaliados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Food and Drug Administration (FDA) e Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) ainda são inconclusivos sobre a relação do aspartame com o desenvolvimento do câncer em seres humanos.2, 3, 4, 5
Relatos dos profissionais da saúde
“O câncer é uma das principais causas de morte em todo o mundo. Todos os anos, uma em cada seis pessoas morre de câncer [...]. As avaliações do aspartame indicaram que, embora a segurança não seja uma grande preocupação nas doses normalmente utilizadas, foram descritos efeitos potenciais que precisam ser investigados por mais e melhores estudos”, avaliou o Dr. Francesco Branca, diretor do Departamento de Nutrição e Segurança Alimentar da OMS.5
Já a nutricionista Luciana Grucci Maya Moreira, chefe da Área Técnica de Alimentação, Nutrição, Atividade Física e Câncer do Instituto Nacional do Câncer (INCA), vê a comunicação com a população sobre o tema como um desafio. “Precisamos traduzir evidência científica em informação [...]. A preocupação do INCA, além de considerar o potencial carcinogênico, é avaliar a relação da substância com um dos principais fatores de risco para o câncer, que é a obesidade.”6
Para ela, o ideal é perseguir uma alimentação com mais “alimentos in natura, minimamente processados e de origem vegetal, em especial”, além de manter um peso saudável e, numa dieta saudável, evitar tanto o adoçante quanto o açúcar.6
O que a Anvisa nos informa
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é responsável por autorizar o uso de adoçantes. Os limites e condições de utilização dos aditivos aprovados estão definidos na Instrução Normativa 211/2023. O aspartame foi extensivamente estudado e diferentes comitês internacionais concordam que ele é seguro dentro da ingestão diária aceitável.7
Até o momento, não houve mudanças nas questões de segurança, e a Anvisa continuará a monitorar novos desenvolvimentos científicos. Não foram feitas novas recomendações, mas tem-se considerado fazer mudanças nas regras de declaração de adoçantes e aditivos alimentares na lista de ingredientes, para tornar mais fácil aos consumidores identificarem essas substâncias nos alimentos.7
Referências:
1 Czarnecka K, Pilarz A, Rogut A, Maj P, Szymańska J, Olejnik Ł, Szymański P. Aspartame — True or false? Narrative review of safety analysis of general use in products. Nutrients. 2021; 13(6):1957. doi: 10.3390/nu13061957.
2 Riboli E, Beland FA, Lachenmeier DW, Marques MM, Phillips DH, Schernhammer E, et al. Carcinogenicity of aspartame, methyleugenol, and isoeugenol. Lancet Oncol. 2023;24(8):848–850. doi: 10.1016/S1470-2045(23)00341-8.
3 World Health Organization. Aspartame hazard and risk assessment results released [Internet]. Geneva: WHO; 2023 [cited 2023 Oct 9]. Available from: https://www.who.int/news/item/14-07-2023-aspartame-hazard-and-risk-assessment-results-released
4 Oncoguia. Aspartame: Instituto Nacional do Câncer recomenda não usar adoçante após alerta da OMS [Internet]. São Paulo: Oncoguia; 2023 [Acesso em 9 out. 2023]. Disponível em: http://www.oncoguia.org.br/conteudo/aspartame-instituto-nacional-do-cancer-recomenda-nao-usar-adocante-apos-alerta-da-oms/16445/7/
5 Organização Pan-Americana da Saúde. Divulgados os resultados da avaliação de riscos e perigos do aspartame [Internet]. Washington, DC: OPAS; 2023 [Acesso em 9 out. 2023]. Disponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/14-7-2023-divulgados-os-resultados-da-avaliacao-riscos-e-perigos-do-aspartame
6 Moreira LGM. Entenda o potencial cancerígeno do aspartame e como evitar os riscos [Entrevista a Amanda Garcia]. São Paulo: CNN Rádio; 2023 [Acesso em 9 out. 2023]. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/entenda-o-potencial-cancerigeno-do-aspartame-e-como-evitar-os-riscos/
7 Ministério da Saúde, Brasil. OMS divulga resultados da avaliação de perigo e risco do aspartame [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2023 [Acesso em 9 out. 2023]. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2023/oms-divulga-resultados-da-avaliacao-de-perigo-e-risco-do-aspartame
BR23DI00174 – Outubro/2023
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